Eu preciso ser gente
- gustavorodrigues937
- 21 de mar. de 2022
- 1 min de leitura

Nascido de um ventre preto
Sou sobrevivente
De uma nação carente
Fui dito e lido como subserviente
Minha pele é o que fica aparente
Na conjuntura racista permanente
Do seu país que me açoita
Mata
E persegue a minha gente
Já na infância a criança negra entende
Sem boné, não corre na rua e se mostre sempre decente
Anda direito, estuda e seja melhor que qualquer outro vivente
Mesmo que isso desregule a sua mente
Da responsabilidade que, ainda, em tenra idade
Precisa se mostrar firme (não há quem aguente)
Na adolescência vai namorar? Nem pense
O amor não é pra você, seja apenas o amigo presente
Se é bicha preta então, nem invente
Se esconda, finja e esteja contente
Quando adulto, ache o seu destino
Trabalhe, baixe a cabeça e não se abale
Você é uma máquina, homem preto, desde a escravidão (ela acabou?) A sua palavra é resistente.
Serve pra tudo e pra todos, menos pra você, sabe por quê?
É a lógica do capital, onde quem tem a cor mais clara é paga pra vê
O sofrimento alheio do povo preto que a branquitude quer esquecer
E se você quebra o algoritmo e entra em outro espaço, tá pensando o quê?
A culpa do sistema aparece e te diz "você não é bem vindo aqui, pretinho, vai se fudê "
Vergonha insistente
Cabeça baixa, impotente
Dignidade inexistente
Quando na real, eu só queria poder por uma vez dizer em alto e bom tom
"Eu preciso ser gente."



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