A cor púrpura: uma conexão entre o passado, o presente e a literatura
- gustavorodrigues937
- 2 de mai. de 2022
- 2 min de leitura

Dizem que a literatura, assim como as outras manifestações artísticas, imita a vida e retrata os aspectos sociais da época a qual ela se propõe representar. Porém, existem algumas obras literárias que, por conta de sua grandiosidade e da forma como foram escritas, conseguem ultrapassar o tempo. Dentre elas, com certeza posso citar o livro de Alice Walker, "A cor púrpura", publicado em 1982 e ganhador do prêmio Pulitzer, equivalente ao Oscar da literatura.
Para quem ainda não teve a oportunidade de realizar essa leitura, deixo aqui um resumo breve e muito singelo, afinal, seria impossível conseguir exprimir em apenas um texto quase 400 páginas de tanta eloquência. Primeiramente, é preciso que vocês saibam que o pano de fundo para essa história são pautas que até hoje vigoram em nossa sociedade como o racismo, o machismo, o patriarcado e as relações de poder que ainda aprisionam as minorias. Neste caso, temos personagens majoritanente negras, mulheres que, por conta do tempo e condições sociais, precisam se submeter a seus pais, maridos e irmãos. Dentro desse cenário temos Celie, menina de 14 que sofre abusos de seu padastro, engravida duas vezes, é afastada de seus filhos, de sua irmã e, após, é submetida a um casamento forçado. Ficando longe de todos que ama, Celie descobre outras formas de amar que, para a época, eram simplesmente inaceitáveis.
Neste final de semana, tive a alegria de ver as páginas que li dessa obra serem traduzidas para um belíssimo musical apresentado aqui em Porto Alegre. "A cor púrpura- O Musical" trouxe ao palco um elenco composto de diversos atores negros muito talentosos e preparados para encarar três horas de peça cantando, dançando e encantando ao público. Confesso que até o momento não tenho ainda muita experiência com teatro, a não ser pelas vezes em que, ainda adolescente, tive o prazer de fazer parte de uma companhia de artes cênicas. No entanto, tenho certeza de que nenhuma se compara com o que vivenciei nesse sábado. Além das grandes atuações, o cenário, composto de mecanismos que o movimentavam, com luzes que variavam da cor laranja à púrpura, nos transportavam para o sul dos EUA e suas fazendas de algodão. É impossível, principalmente para pessoas negras, não atingirem um estado de catarse, em que a alternância entre o sorriso e a lágrima se faz presente durante a peça.
As atuações, difíceis de serem explicadas em palavras, trouxeram ao público essa história de tristeza e superação da personagem principal. História que se entrelaça com tantas outras de mulheres negras que até hoje passam por situações de preconceito, rejeição e sofrimento. Não é à toa que a identificação com o público feminino negro que estava ali naquela noite foi instantânea. Era possível ver a cada cena e fala das atrizes a vibração naquele teatro, mostrando o quanto a literatura e a arte como um todo, quando bem feitas, conectam todos nós em uma linha que transcende o tempo.




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