A quem é dado o direito de desistir?
- gustavorodrigues937
- 28 de fev. de 2022
- 2 min de leitura

Já faz um bom tempo que venho pensando sobre a questão da desistência e o quanto acabamos sacrificando muito do que somos por necessidades da vida. Mas, ao mesmo tempo, após entender que vivemos em uma sociedade totalmente desigual, tenho compreendido cada vez mais o quanto o direito à desistência é direcionado a poucos e é exatamente aqui onde quero manter a minha análise.
Nesse final de semana, Thiago Abravanel, participante do BBB, foi muito criticado pelo fato de ter apertado o botão de saída da casa e desistido da corrida pelo um milhão e meio. Essa decisão, no entanto, não espantou a ninguém, uma vez que já estando em uma posição de privilégio, afinal, quem não conhece a procedência de sua família, talvez essa tenha sido uma das atitudes mais sensatas que ele tomara no jogo. Antes que vocês pensem que discursarei sobre táticas do reality, deixe-me dizer que vocês estão enganados. Continuarei com a minha atenção somente na questão sobre o privilégio de poder desistir.
O fato é que essa atitude de Thiago me fez pensar sobre as inúmeras vezes em que vi em reportagens, ou até mesmo presenciei em minha frente, pessoas cujo destino não tenha sido asfaltado com o material da melhor qualidade. Pelo contrário, muitas delas precisam enfrentar um caminho de pedras com diversos formatos, dificultando muito mais a sua jornada. Isso, simplesmente as impede de qualquer possibilidade de desistência, até porque, quem as socorreria caso se dessem ao luxo de dizer "eu não preciso disso", assim como foi dito pelo então brother, neto de Silvio Santos.
Mães solos, famílias cuja renda mensal é baixíssima, jovens pobres que depositam seus sonhos na única oportunidade de conseguirem se formar na universidade e tantos outros continuam resistindo, mesmo quando o desejo de dizer chega aparenta ser maior do que a força que eles têm de continuarem. A eles, o direito da desistência não foi dado. Inclusive, na maior parte das vezes, o desistir aparece em inúmeros momentos de suas vidas, tentando-os com firmeza, enquanto que as oportunidades apenas (e quando há) os encontram em situações raras. Para eles, não existe outra escolha, a não ser aceitarem e, dia após dia, encararem não um desafio, mas uma batalha contra uma sociedade que insiste em os apagar.




Muito bem colocado.