top of page

Escritores negros esquecidos no rolê


ree

Boa parte da minha vida até o momento, foi basicamente gasta realizando leituras de diversos gêneros textuais. Desde a infância, começando com as histórias em quadrinhos, na adolescência, com a literatura clássica (muito conhecida como canônica), até o momento, através das leituras mais contemporâneas e atuais, passei e passo boa parte dos meu tempo me dividindo entre os inúmeros livros de minha estante. E apesar das diferenças que existem de um autor para o outro e de suas singularidades, posso citar, com uma certa vergonha e constrangimento, que dentre essas leituras uma grande parte possui pelo menos uma característica que os conecta: muitos deles são brancos.

Esse é, infelizmente, um dos pontos que não me orgulho de mencionar da minha existência de 35 anos. Principalmente porque apenas recentemente, com uma compreensão maior sobre o quanto o racismo faz parte da nossa sociedade e de como ele pode, sutilmente, influenciar em absolutamente tudo o que fazemos (incluindo aqui os tipos de leituras que efetuamos) consegui entender o quanto é importante identificarmos nossos gostos e preferências. Digo isso pois boa parte daquilo que acreditamos ser algo bastante natural e instintivo é, nada mais nada menos do que uma influência externa. Por exemplo, o fato de em minha biblioteca pessoal existir uma grande quantidade de livros escritos unicamente por pessoas brancas (e por pessoas brancas ainda enfatizo masculinas) diz muito sobre como vemos a nossa sociedade e o que damos valor a ela. Isso também pode ser aplicado às relações que criamos na vida, aos exemplos aos quais edificamos, etc.

O meio no qual vivemos nos influencia diretamente sob todos os aspectos possíveis, afinal, é a partir dele que encontramos uma espécie de "molde" para viver e nos adaptar. E, por conta do nosso histórico de escravidão, de 300 anos, e a perpetuação de uma política racista, genocida e excludente, é "comum " que muitos dos nossos ainda estejam às margens do que possamos citar como exemplos. Ou seja, é bem possível que para cada indivíduo branco que atinja o sucesso em sua área, há outro negro que é deixado de lado, esquecido e discriminado. Não seria diferente na literatura. Na verdade, a literatura, campo historicamente conhecido como intelectualizado e predominantemente branco e masculino, apenas perpetuaria o mesmo viés que a sociedade brasileira já propaga. Assim, é uma tarefa árdua identificar autores e autoras negras consagrados pela crítica literária, bem como pelo próprio público, que, devidamente doutrinado, ainda acredita escolher seus escritores unicamente através de seu gosto pessoal.

Administrar, portanto, nossos próprios interesses literários e procurar por autores que falem diretamente conosco seria a primeira tarefa que devemos realizar, ao entender o quanto somos manipulados. Eu, por exemplo, iniciei pesquisando por escritores negros que, primeiramente, falassem sobre as questões de raça que tanto me interessam. Conheci nessa jornada Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Joice Berth, Silvio Almeida, Tiago Amparo, Chimamanda, Lélia Gonzáles, Bell Hooks, Frantz Fenon, Ângela Davis e tantos outros. Quando vi, já estava encontrando autores da literatura que escrevem romances, contos e crônicas, algo ainda mais próximo do que eu, enquanto escritor, produzo, como Jeferson Tenório, Alice Walker, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e por aí vai. No final, ler pessoas negras não apenas se tornou um grande achado de identificação e projeção, como também um prazer por encontrar entre os meus, mesmo que a sociedade não queira admitir, intelectualidade.

Comentários


ME ACOMPANHE NAS REDES SOCIAIS!

  • email
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
bottom of page