top of page

Sobre relacionamentos e casamentos não heteronormativos

Atualizado: 14 de fev. de 2022


ree

Assim como a maioria das crianças dos anos 90, cresci com uma visão sobre relacionamentos e vida amorosa bastante heteronormativa. Para quem ainda não está muito familiarizado com esse termo, explicarei aqui rapidamente, assim não perco o meu raciocínio. A maior parte das famílias que são representadas nos filmes que assistimos, nas novelas e livros que temos acesso, mostram sempre a existência de um único tipo de relação familiar. Aquela constituída do homem hétero cisgênero, sua esposa, mulher cisgênero também, seus filhos e, eventualmente, seu cachorrinho. Em suma, a família perfeita de comercial de margarina. Continuando...

Essas representações, por mais que possam aparentar ser uma grande bobagem para a maioria das pessoas, são responsáveis pela formação do nosso imaginário do que é a sociedade. Portanto, a gente cresce e se desenvolve acreditando que este é o único modelo possível de vida a se ter. Qualquer outro que esteja fora destes parâmetros, será passível de críticas e julgamentos. Bom, pensando nisso, vocês, pessoas esclarecidas e de mente aberta, já conseguem imaginar o estrago que isso pode fazer na vida de qualquer criança que não se enquadra nesse perfil estabelecido pela sociedade.

Durante muito tempo, por mais esforço que eu fizesse (e acreditem, durante a adolescência eu fiz muito - por sinal, desculpem meninas que tiveram algum tipo de relação comigo) e por mais que me empenhasse, nada seria o suficiente para me encaixar nesse quadro. Foram muitos anos tentando me infiltrar nesse clã social ao qual fui inserido, mas excluído ao mesmo tempo, me causando alguns traumas que carrego comigo até hoje, mas devidamente controlados através de sessões de terapia. Pode ser até um clichê dizer que apenas entende essa dor quem já a sentiu em alguma dose, mas a verdade é essa. Não há maneira diferente de entendê-la.

No entanto, após alguns anos de ferimentos, percebo-me feliz e realizado com a forma de família que hoje eu formei. Talvez não seja a formação esperada por essa sociedade, que insiste em avançar nas questões tecnológicas, mas persiste no atraso das relações pessoais, mas isso também pouco me importa. Digo isso porque após 4 anos de namoro e 3 de casamento (realizados na última semana, dia 9) me vejo, de fato, amado e cuidado, amando e cuidando. E, assim como qualquer outro relacionamento, temos nossas discussões, mas também temos nossos momentos de redenção e de escuta. E isso, caros leitores, eu não troco por nenhuma outra cartilha social que queiram me impor.

2 comentários


zilamesquita
15 de fev. de 2022

Crônica bem escrita; com o sentimento e a clareza necessárias.

Parabéns.

Curtir

Denis Bueno
Denis Bueno
14 de fev. de 2022

Como disseste, somente quem viveu relacionamentos heteronormativos enquanto sentia o medo de sorrir demais ou parecer afeminado demais, acabar sozinho, ter que fugir e se esconder da sociedade, pode entender perfeitamente. Ler teu relato, meu amigo, só me faz pensar no quanto somos sortudos por termos quebrado as barreiras para viver uma vida realmente plena com nossos amores. 🏳️‍🌈

Curtir

ME ACOMPANHE NAS REDES SOCIAIS!

  • email
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
bottom of page