“Você vai inspirar muita gente.”

Eram nossas férias de verão e, finalmente, após um ano intenso de trabalho, decidimos viajar para São Paulo, nosso lugar favorito no mundo. Não poderia ser melhor, aproveitar um tempo livre em um ambiente cuja paixão compartilhamos. Mas lá pelas tantas, nos lembramos que o filme “Minha mãe é uma peça 3” seria lançado, bem em meio ao nosso descanso. A alegria dos turistas na cidade mais movimentada do país estava completa.

Ainda não tínhamos tido a experiência de estarmos em um cinema paulistano. Talvez, não seria nada diferente de uma sala gaúcha, mas estávamos curiosos. Na verdade, o que importava mesmo era poder assistir ao filme, pois ele sim era o grande esperado do dia.

Enfim, entramos e ficamos esperando por ele. Não demorou muito e o longa de Paulo Gustavo começou. Mais uma vez estaria vendo uma superprodução dele e, dessa vez, ao lado de meu marido. Já havia tido a oportunidade de assistir aos outros 2 anteriores aos quais Dona Hermínia, a personagem principal, mostrava toda sua potência enquanto mãe, sendo engraçada e completamente surtada ao mesmo tempo. Assim como qualquer mãe que se preste. Afinal, que mãe não tem um pouco destas características, não é?

O fato é que como nos filmes anteriores, rimos, nos divertimos e, como sempre, ao final também choramos. Paulo Gustavo, nosso agora eternizado ator de comédia, conseguiu com maestria mesclar em seus filmes momentos de pura euforia, com gargalhadas que nos fazem perder o fôlego, e emoção, derramando lágrimas da audiência por cenas tão delicadas.

Neste último filme não foi nada diferente, em especial na cena do casamento do filho da personagem principal. Ela, a mãe muitas vezes descontrolada e sem paciência para as inúmeras situações que seus filhos a colocavam, não hesitou em fazer um lindo discurso à Juliano e seu futuro marido. Assim como outras pessoas do cinema, meus olhos se encheram de lágrimas lembrando de momentos muito semelhantes que compartilhei com minha mãe. Ela, da mesma forma que dona Hermínia no filme, também esteve ao meu lado, me fortalecendo e me ajudando em uma hora que nós, pessoas LGBTQI+, precisamos apenas de alguém que nos ame nos diga “vai ficar tudo bem”. Assim, ela me fez acreditar o quanto eu poderia ser simplesmente eu, e que não havia problema algum nisso.

Paulo Gustavo não foi uma pessoa próxima minha, nem tão pouco eu tive qualquer interesse em seguir sua vida pelas redes sociais. Sei também das polêmicas envolvendo o caso da falta de beijo em seu próprio casamento, porque ele, naquele momento, decidiu que deveria preservar sua imagem enquanto ator. Mas isso pouco me importa. Ele, através de seus filmes e de suas narrativas, fez com que muitas mães do Brasil inteiro conseguissem se ver na posição de Dona Hermínia, uma mulher batalhadora, mãe e que, em um dado momento de sua vida, precisou entender que estava tudo bem seu filho ser gay, até porque isso não faria diferença em absolutamente nada.

Por tudo isso, muito obrigado, Paulo Gustavo, por trazer para essa nossa realidade tão dura e preconceituosa uma personagem tão delicada. O Brasil, nestes últimos tempos, tem vivido um grande retrocesso de tudo e pessoas como você são muito necessárias para as nossas vidas. E nesse 9 de maio, mesmo ainda triste pela sua partida, estamos agradecidos de termos identificado um pouco de cada uma das nossas mães que constituem esse país na

sua. Espero que de onde você esteja saiba que como dona Hermínia disse a Juliano no casamento, gostaria de deixar marcado neste texto que você, em sua bela atitude artística, inspirou muita gente.